A SAVIV, associada da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, realizou no âmbito do A2A um Workshop sobre Mentalidade de Alta Performance que focou, entre outros aspectos, os mecanismos que o cérebro utiliza para nos manter na zona de conforto e como reprogramá-los com o objectivo de entregar resultados acima da média, de maneira sustentável.

 

Por que não fazemos o que já sabemos que temos que fazer?

Acordar cedo, fazer exercícios, alimentar-se adequadamente, gastar menos do que ganha, fazer reuniões de motivação com a equipa, procurar novos conhecimentos… há tanta coisa que sabemos que deveríamos fazer para desenvolver a carreira, e que comprovadamente traz benefícios nos mais variados campos da nossa vida! Já lemos a respeito, ouvimos em workshops, recebemos conselhos…e até acreditamos de coração que são iniciativas válidas e importantes para a nossa vida.

 

Mas…por que nem sempre fazemos o que sabemos que é importante para nós?

Tenho a impressão de que a maioria das coisas que precisamos saber para ter comportamentos que nos trarão os resultados que desejamos, nós já sabemos de alguma maneira. Talvez não tenhamos a profundidade necessária para efectivamente dominá-lo, ou ele esteja empoeirado em algum canto da nossa mente, ou esteja espalhado no meio de vários outros assuntos e falta uma ordem, ou um método, para acedê-lo e conseguir colocá-lo em prática. Mas, na maioria das vezes, temos pelo menos uma noção de qual seria o comportamento esperado para nós.

 

Então, por que não somos todos bem-sucedidos, felizes e saudáveis como gostaríamos? Por que o óbvio não é tão óbvio assim?

A resposta está no cérebro: sim, esse órgão complexo, poderoso e indispensável para a nossa vida é quem está por trás dessa aparente dificuldade em fazer mudanças de comportamento na nossa vida. Por que é tão difícil mudar hábitos?

O nosso cérebro é o objecto mais complexo do Universo, formado por 86 biliões de neurónios e que podem formar mais de 100 triliões de conexões. Se ele trabalhasse a pleno potencial, gastaria em energia o equivalente a 4 usinas de Itaipu trabalhando simultaneamente! Para evitar consumir essa quantidade absurda de energia, o nosso cérebro, inteligentemente, actua na maior parte do tempo em modo de “economia de energia”. Isso significa que ele liga o piloto automático para comandar tudo isso, reduzindo drasticamente a energia necessária. Ou seja, na maior parte do tempo, estamos actuando de maneira inconsciente, repetindo comportamentos que já estão cristalizados e que por isso são feitos sem grande esforço. E isso dificulta a mudança de comportamento, pois para adoptarmos um hábito novo, diferente do que está armazenado no nosso cérebro, temos que sair do piloto automático e gastar energia!

Daniel Kahneman, no seu livro “Rápido e Devagar: duas formas de pensar” descreveu bem essa mania que o nosso cérebro tem de “pensar rápido”, reduzindo as nossas decisões a padrões pré-estabelecidos. “Para Kahneman, o cérebro tem dois tipos de pensamento. O primeiro é rápido e intuitivo e confia na experiência, na memória e nos sentimentos para tomar decisões. O segundo é lento e analítico – e serve como uma espécie de guardião do primeiro.

Quando estamos a agir com base na nossa experiência, usando o pensamento rápido, ou intuitivo, estamos a repetir padrões com os quais já estamos habituados. Para fazer algo novo precisamos aceder ai pensamento lento, ou analítico, e para isso temos que lutar contra o nosso instinto, que é mais forte e tende a predominar sobre o pensamento analítico. Olha o cérebro a querer evitar o gasto de energia outra vez!

 

E será que é possível efectivamente, com todas essas artimanhas do nosso cérebro para se manter na zona de conforto, conseguir mudar o nosso comportamento?

Felizmente para todos nós, é sim. Basta que estejamos comprometidos com essa mudança. a ponto de trazer a nossa consciência para o momento da acção. Pensar antes de fazer. Gastar energia e esforço, voluntariamente. No início vai ser complicado, vamos sentir como se estivéssemos a fingir ou a forçar um comportamento. Mas aos poucos o nosso cérebro vai começar a perceber e assimilar o comportamento desejado, até que isso finalmente se constitua num novo hábito. A psicóloga social Amy Cuddy explica esse factor como “Fake it untill you make it” ou “Fake it untill you become it”, que significam: “Finja até conseguir” ou “finja até se tornar”, num TED que é um dos mais vistos da história do programa.

Vamos tirar o cérebro da zona de conforto e colocá-lo a trabalhar a seu favor?

 

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Juliana Paes Garcia

Coach e oradora com mais de 10 anos de experiência

Ser Associado da Câmara de Comércio significa fazer parte de uma instituição que foi pioneira do associativismo em Portugal.

 

Os nossos Associados dispõem do acesso, em exclusividade, a um conjunto de ferramentas facilitadoras da gestão e organização das respectivas empresas.